domingo, 11 de setembro de 2011

SECA, QUEIMADAS, POLUIÇÃO E FOTOSSÍNTESE



Manhã de 08 de setembro em Brasília: SMOG

Parece absurdo relacionar as nuvens de fumaça das queimadas que assolam Brasília com o Transporte. Mas a ligação é verdadeira e dramática. O Centro-Oeste é assolado por uma seca que na cidade de Brasília já atingiu 9% de umidade relativa em setembro de 2011. Secas não são novidades para o centro do Brasil. Fazem parte do clima da região. As plantas e os animais estão adaptados para o período.

Só que há mais dois elementos humanos graves: a ação de incendiários e as emissões de CO2 dos mais de 1,2 milhão de veículos que circulam no Distrito Federal.

Os incêndios ocorridos no Parque Nacional, no Jardim Botânico, nas diversas reservas e áreas de proteção ambiental não foram espontâneos. Os brigadistas de incêndio do Ibama explicaram ao blog Ambiente Transporte que para ocorrer um incêndio se precisa de três fatores: Oxigênio, Material Combustível e Calor acima de 300 C. O sol não fornece calor suficiente para atingir os 300 C na superfície do planeta. Ou seja, esses incêndios são causados por ação humana, são Queimadas.

Agora, vamos à relação com o Transporte:

Os mais de 1 milhão de automóveis do DF, somados aos mais de 200 mil automóveis do Entorno do DF (Valparaízo, Novo Gama, Cidade Ocidental, Jardim ABC, Águas Lindas, Planaltina de Goiás etc.) são responsáveis pela emissão de mais de 240 toneladas de CO2 por dia, em um cálculo minúsculo de 200 gramas emitidas por dia.

As árvores dos parques, florestas, áreas de preservação e das ruas e residências são grandes filtros biológicos, que todavia, só funcionam de dia. As plantas necessitam da luz solar para produzirem Oxigênio através da respiração do CO2. À noite, as plantas não recebem luz solar e não filtram o CO2 em Oxigênio.


O horizonte do DF em chamas


As queimadas no dia 07 de setembro geraram uma nuvem, que pela ausência de ventos, permaneceu ao nível do solo, se espalhando pelas ruas e estradas do DF. Quando anoiteceu, as plantas pararam de respirar o CO2 e transformá-lo em Oxigênio, pois não havia mais luz do sol.

E agora, o mais grave: os mais de 1 milhão de veículos puseram-se em movimento no período da tarde, geralmente a partir das 17 horas até às 24 horas, para voltarem para casa. Assim, mais de 120 toneladas de CO2 foram lançadas à atmosfera, só que igualmente não subiram à atmosfera e não foram absorvidas pelas plantas. Afinal era noite e à noite, não há fotossíntese.

A noite de 07 para 08 de setembro foi marcada pela nuvem tóxica que ficou sobre o Lago Sul, a Asa Sul e a Asa Norte. Somente com o nascer do sol, na manhã de 08 de setembro, que as plantas puderam exercer seu efeito filtrante. Só que entraram em circulação novamente os mais de 1 milhão de veículos, emitindo mais 240 toneladas diárias de CO2.

Essa nuvem que mistura fumaça de queimadas e com poluição tem um nome: SMOG. É a fusão de SMOKE (fumaça ou fumo, em inglês) com FOG (névoa ou nevoeiro). Foi cunhada em 1952, quando uma nuvem de CO2 dos aquecedores a carvão londrinos desceu ao solo por uma inversão térmica do inverno. Mais de 4.000 pessoas morreram em 3 semanas.

Vamos voltar ao Brasil a Brasília e tocar no ponto sensível: a ausência de Meios de Transporte de Massa não poluentes, como Metrôs, VLTs e Ônibus Elétricos é determinante no agravamento da poluição que cobre o DF durante a seca.

Os Metrôs e Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) são movidos por energia elétrica, assim como os ônibus elétricos. Portanto, sua emissão de CO2 é quase zero, ao serem comparados aos carros, motocicletas e ônibus a diesel.

Há mais de 3 anos que não se amplia a linha do metrô do DF. As obras do VLT estão paralisadas pela descoberta de fraudes na sua licitação, durante o governo Arruda-Paulo Octávio. E como não bastasse, o próprio projeto do VLT previa a derrubada de todas as árvores do canteiro central da avenida W-3 e não previa a retirada dos ônibus que circulam pela avenida.

Em relação ao período atual de seca de 2011, emergencialmente, o governo do DF e o governo federal têm de concordar com a redução dos expedientes de trabalho de todas as atividades não essenciais. Não se pode permitir que a atual quantidade de veículos emissores de CO2 circulem após o por do sol, somando sua emissão de CO2 às nuvens de CO2 causadas pelas queimadas.

E em relação ao próximos anos, é fundamental a substituição do transporte individual (carros e motos) e dos ônibus a diesel, por Ônibus Elétricos, VLTs e Metrôs. Agora não é mais somente uma questão de Transporte Público. É uma questão de Saúde Pública.








quarta-feira, 17 de agosto de 2011

NOVA EPTG É IMPRATICÁVEL AOS DEFICIENTES E PEDESTRES








No dia 12 de agosto tivemos duas matérias exibidas nos noticiários locais do DF, mostrando que a Estrada Parque Taguatinga tornou-se impraticável para cadeirantes, idosos, gestantes e mesmo para os pedestres comuns.
A construção de duas pistas centrais, onde transitarão ônibus com portas no lado esquerdo (isso mesmo, lado esquerdo!) alargou o espaço a ser atravessado pelos pedestres. Além disso, como se trata de uma estrada, suas passarelas estão a quase 10 metros de altura, com oito lances de escadas e rampas.
O tema foi abordado tanto pelo DFTV 2ª edição e pelo DF Record. Fizemos a simulação-real, em que convidamos pessoas sem problemas de locomoção a usarem equipamentos que simulam dificuldades de locomoção: cadeiras de rodas para quem anda normalmente; pesos para simular gravidez; travas de joelhos para simular velhice e vendas para simular cegueira.
O caso mais gritante foi o dos cadeirantes, em que somente um dos voluntários conseguiu subir os oito lances de rampas de uma das passarelas da EPTG. Ao concluir, deu uma entrevista ao DFTV, admitindo que isso era absurdo, pois ele é ciclista, estava acostumado a fazer esportes e não conseguiria fazer esse percurso todo dia.
Foi uma pena os dois jornais não terem enfocado a questão dos ônibus de portas do lado esquerdo, que são os causadores das passarelas, do alargamento da EPTG e da impermeabilização da área.



quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sem Tempo para o Trânsito

Sem Tempo para o Trânsito

Esse artigo é uma colaboração do colega Paulo Ricardo Meira

"Usem o tempo da melhor maneira possível a despeito de todas as dificuldades destes dias." (Efésios, 5:16, in Bíblia)


A passagem indevida no sinal vermelho é uma das mais mais comuns infrações de trânsito no Brasil.
Apenas como exemplo, no Estado do Rio Grande do Sul, é a sexta infração de trânsito mais cometida, tendo até o momento, em julho de 2011, acumulado 46 mil ocorrências somente neste ano - foram 90.694 ao longo de 2010 - e é um hábito dos mais perigosos à integridade física no trânsito.

Veja-se, para ilustrar, o acidente que misturou uma advogada de 27 anos e seu SUV, e um empresário com um Porsche, ambos esmagados junto a um poste em uma avenida. Por que motivo furamos o sinal?

Trata-se, a meu ver, de uma pressa desmedida, na qual não damos ao trânsito seu necessário tempo. Como escrevi certa vez, ao planejarmos nosso dia, em geral alocamos nosso tempo com base nas tarefas e compromissos dedicados a esse dia. Nosso cronograma é assim baseado nas atividades, contudo não prevemos os hiatos de tempo que seriam necessários para nos colocar fisicamente presentes para essas atividades. Não destinamos, portanto, um tempo ao trânsito.

Pensamos nos compromissos em si, mas o tempo do trânsito a gente dá um jeitinho. Em geral, um jeitinho brasileiro. Pensamos que pressionar o motorista de táxi resolve, pensamos que um pé mais pesado no acelerador de nossos veículos também resolve, afinal, já que precisamos com certeza o trânsito estaria desobstruído para nós, não?

É aí que entramos em uma das maiores armadilhas do trânsito: a pressa. Como nosso planejamento levou em conta nossos deveres, sem entretanto a devida importância ao nosso deslocamento para chegar até eles, nossa agenda fica atrasada. Os compromissos são, via de regra, inflexíveis, sem possibilidade de adiamento. Portanto, o que sobra para interferirmos, como senhores do tempo, é o trânsito. Transformamos, mentalmente, os automóveis em máquinas do tempo que poderiam nos levar, quase em teletransporte, ao local que precisamos em questão de minutos.

A partir daí, qualquer costura na via pública, para ganhar uns metros, vale a pena o risco de mudança de pista. Qualquer sinal amarelo vale a pena o risco do aproveitamento. Qualquer cruzamento deixa de ser visto como um perigo em potencial para dar passagem à nossa pressa, afinal de contas os demais condutores entenderão, pois estamos, excepcionalmente hoje, atrasados. Assim, ganharemos trânsito livre e preferência em nossa corrida maluca com destino aos nossos compromissos.

Pena que os demais também estão com o mesmo dilema. Em vez de encarar o trânsito como um ato social, com um tempo merecido e certas convenções a serem observadas, encaramos como um inconveniente passageiro do qual tentamos o mais rapidamente sair.
Quanto maior nossa pressa, maior também o nível de risco que estamos dispostos a correr, sempre sabemos que vamos nos organizar melhor no dia seguinte. Mas nada como chegar inteiro, por sorte, para nos causar uma provável amnésia em nossas efêmeras resoluções.

Será que, com o tempo, mudaremos, e passaremos a usar nosso próprio tempo como sabedoria, como exortado em Efésios?

Paulo Ricardo Meira é Doutor em Marketing pelo PPGA/UFRGS e Consultor da Fenasdetran