terça-feira, 18 de setembro de 2012

E Brasília caminha para se tornar África

Ou como Agnelo e Filippelli estão afundando a Qualidade de Vida para essa e para as Próximas Gerações
(2ª Parte)

Uma grande aliança ocorreu para evitar a implantação das 4 linhas de Metrô no Distrito Federal: em primeiro lugar, os donos das empresas de ônibus recusaram-se a integrar seus caixas com o caixa do metrô, impedindo a Integração.

Com a Integração, o passageiro compraria uma única passagem que seria válida para andar em vários meios de transportes: Metrô, Ônibus, Vans...

Ao final do dia, seria dividida a participação de cada um através de um sistema único de caixa eletrônico. Simples e eficiente.

Três problemas básicos: acabaria com as possibilidades de sonegação, eliminaria  o caixa dois e reduziria a importância política dos ônibus, que passariam a abastecer o metrô como principal veículo de massa para transporte de passageiros.

Em segundo lugar, as obras de metrô, apesar de caras, passaram a ser muito bem fiscalizadas pelos Tribunais de Contas e pelos Ministérios Públicos. Os Tribunais de Contas foram muito eficientes nas duas tentativas de concessão do Metrô-DF, impedindo o processo. Da mesma forma, o Ministério Público descobrira fraudes do projeto do VLT, causando a demissão do então presidente José Gaspar de Souza e do Diretor Técnico, José Dimas.


Ao alto, José Gaspar de Souza. Abaixo, José Dimas. Ex-presidente e ex-diretor do Metrô-DF. Ambos denunciados pelo Ministério Público do DF na Operação Bagre. O modo de agir de José Gaspar lhe valeu o apelido de "Gasparzinho" (- o fantasma camarada-) entre os metroviários.


A partir daí, houve um desinteresse de vários políticos do DF a executarem obras de metrô, que eles passaram a chamar de "caras" e de "longo prazo".

Em terceiro lugar, consolidou-se o lobby de escritórios de projetos, bancos financiadores e empreiteiras. Esse conjunto passou a vender um pacote pronto chamado "BRT" (Bus Rapid Transit), que inicialmente tentaram chamar de "metrô sobre pneus", ou VLP (Veículo Leve sobre Pneus). Como diz meu amigo Renato Zerbinato, Veículo Leve sobre Pneus é Bicicleta!

Os BRTs são basicamente um projeto de alargamento de ruas, com uso de mão invertida e ônibus com portas do lado esquerdo, trafegando em vias segregadas.

Com forte necessidade de obras para execução do projeto (estações, passarelas, muros, asfaltamento), esses projetos eram apenas as adaptações dos sonhos dos donos de ônibus: ruas só para ônibus.

O impacto dentro das cidades desses BRTs é dramático: barreiras urbanas de concreto, ruas transformadas em pistas de alta velocidade, isolamento de cidadãos sem poderem cruzar as ruas, alta emissão de CO2 e de ruídos, degradação das zonas urbanas, com fuga de moradores e decadência comercial das áreas.

O primeiro modelo de BRT foi o sistema de Ônibus de Curitiba. Foi justamente construído por que Curitiba fora excluída do programa federal de construção de metrôs, ao longo da década de 1970.

Sua ideia foi copiada e implantada em um país em guerra civil na América Latina, a Colômbia.  Para um país tomado pelo narco-tráfico e por políticos corruptos, o BRT de Bogotá (o Transmilenio) inicialmente parecia uma boa solução. Porém em menos de dois anos, seus fortes impactos negativos começaram a incomodar a população, que tem realizado constantes manifestações pedindo sua substituição por metrôs.


Abaixo, uma concentração normal de passageiros em uma estação inicial do Transmilenio, em Bogotá . Como podem ver, o número de passageiros não cabe dentro dos ônibus. Um ônibus de 140 passageiros não cabe os 1.400 passageiros de um trem de metrô. Por isso, a solução correta seria a implantação de um metrô. Mas a máfia do transporte rodoviário naquela cidade nem quer ouvir falar em metrô...



 Vocês podem observar que o Transmilenio não acabou com os congestionamentos. É só observar a rua ao lado, na foto acima...o Transmilenio de Bogotá é assim: lotado.
Periodicamente, quando ocorre algum aumento no preço das passagens, ou quando as chuvas interrompem a circulação dos ônibus, a população explode em revoltas, como em março de 2012, abaixo.




Em Brasília, os projetos das Linhas 1, 2 3 e 4 do Metrô sumiram. Em seu lugar, exatamente no desenho de suas linhas, apareceram os projetos de Corredores de Ônibus. É lamentável que o atual vice-governador do DF Nélson Tadeu Filippelli, que foi secretário de Obras do DF por oito anos (1999 a 2006), esteja trabalhando tanto para enterrar os projetos modernos de mobilidade.

Agora, vejam que a Linha Verde do BRT de Brasília é exatamente o trecho central da Linha 1 do Metrô, entre Taguatinga e o Plano Piloto:


Acima , o mapa da Linha do Metrô, abaixo o mapa da Linha Verde (EPTG). Reparem que em verde está a linha do metrô, totalmente paralela e redundante !

Agora, observem o projeto das Linha 2 e 3 do Metrô, que sairiam de Santa Maria e do Gama. São quase totalmente a Linhas do BRT Sul. As Linhas 2 e 3 do metrô são as linhas vermelha e verde, respectivamente



Para facilitar a visualização do desenho do BRT, aqui abaixo está uma ilustração da própria Secretaria de Transportes do DF. É bem claro que o BRT é uma cópia piorada do projeto das Linhas 2 e 3 do metrô.



Em poucas palavras e algumas ilustrações, pode-se ver que o Governo do DF está gastando quase R$ 1 bilhão em asfalto e concreto, quando poderia gastar esse valor nas conclusão da Linha 1 e na construção das Linhas 2 e 3 do Metrô-DF.

Dentro de mais alguns dias, seguirá outra atualização dessa série sobre a destruição da Qualidade de Vida do Distrito Federal. Um abraço a todos !