quarta-feira, 13 de junho de 2012

        Olá a todos. Nos últimos dias o blog ficou parado por conta da grande discussão que participei no Distrito Federal sobre a implantação de ciclovias. Fui chamado às pressas pela professora Maria Rosa Ravelli Abreu, do Decanato de Extensão da UnB, para auxiliar na aprovação do projeto no Distrito Federal.

        Enfrentamos o setor rodoviário, que é contra qualquer proposta que diminua a dependência da população dos automóveis (carros e ônibus) e surpreendentemente enfrentamos um setor dos defensores das bicicletas, que se tornando "inocentes" úteis, eram contrários à construção das ciclovias.

        Abaixo, quatro imagens bem ilustrativas: a primeira é de um motorista que atropelou um grupo de ciclistas no México, pois não reparou que a rua estava ocupada por algo que não fosse carros; na segunda foto temos uma ciclovia construída à direita de duas ruas para carros e na esquerda está a calçada para os pedestres.

       Reparem que os postes foram instalados dentro das calçadas, o que causa acidentes com cegos e outros deficientes físicos. Por fim, as duas fotos de baixo são de ciclovias na Alemanha e em Porto Alegre, já plenamente operacionais. Reparem que a ciclovia de Porto Alegre possui uma forte barreira de concreto para proteger os ciclistas dos automóveis da rua vizinha.




     
      Vou contar com detalhes:

      Desde 1987 já se falava em implantar ciclovias no Distrito Federal. Entretanto, com a influência do setor de transporte rodoviário, o GDF somente investia em ruas, estradas e viadutos. O setor metroviário está abandonado, sem avançar um único centímetro da Linha 2 em direção às cidades de Santa Maria, Gama, Riacho Fundo, Recanto das Emas. Da mesma forma, não são construídas as extensões da Linha 1 do metrô em direção à Asa Norte, Ceilândia Norte e Samambaia Norte.

     Para se ter uma ideia, o projeto da Linha 1 do Metrô-DF contempla cada estação com um bicicletário para receber as bicicletas da futura malha de ciclovias do DF (isso em 2005).

     Já em 2007, para fazer média e distribuir obras de menor valor, o ex-governador Arruda e o ex-vice-governador Paulo Octávio licitaram as obras das ciclovias do Distrito Federal. Os projetos continham vários erros e com o estouro da Operação Caixa de Pandora, que revelou o Mensalão de Brasília, ficou tudo paralisado.

     Imagem ruim que ficou do período foram os acostamentos pintados como faixas para ciclistas serem atropelados. O governo Arruda/Paulo Octávio afirmava que os acostamentos pintados eram as ciclovias!

     Em 2011, já no governo Agnelo / Filippelli, foi construída uma confusa e mal-acabada ciclovia no Setor Sudoeste, que até  bocas de inspeção de eletricidade havia na ciclovia, causando acidentes aos ciclistas.

     Em abril de 2012, ocorreu a ordem de serviço para a construção das ciclovias na Asa Norte, Asa Sul e Asa Norte, com a promessa de desta vez o projeto ser bem feito e discutido com a comunidade.

    Só que para surpresa de todos, um grupo de ciclistas se opôs à construção, pois passaram a defender o fim das ciclovias e queriam a convivência das bicicletas dentro das ruas, apesar de todos os riscos de atropelamento e inalação de CO2 dos escapamentos dos carros, motos, ônibus e caminhões.

    Por mais que explicássemos que os ciclistas são uma das três categorias vulneráveis de vítimas de acidentes de trânsito (junto com pedestres e motociclistas), esse grupo fazia todo tipo de denúncia contra a ciclovia e se mobilizava para impedir a sua implantação.

 Acima, cópia do texto de um de seus articuladores anti-ciclovia, que por questão de ética, não vou citar, mas vou publicar o seu texto que me foi enviado por engano:


    Assim, quando descobriram que o Governo do Distrito Federal havia começado as obras das ciclovias sem pedir a aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), os grupos anti-ciclovia entraram com denúncias no Ministério Público, o que terminou paralisando as obras.

    Aqui cabe um explicação muito importante: os promotores da ordem urbanística do DF agiram sempre de maneira muito ética. Eles receberam uma denúncia de que o GDF estava realizando uma obra estrutural no Plano Piloto sem a autorização do Iphan (o que era verdade) e que essa obra prejudicaria irremediavelmente o tombamento do Distrito Federal (o que não era necessariamente verdade).

    Assim, durante mais de um mês, o MP reuniu o Governo do Distrito Federal, pesquisadores em Transporte, professores da UnB, associações de ciclistas, representantes das comunidades do Plano Piloto e o Iphan para esclarecer os detalhes do projeto de implantação da rede de ciclovias do DF.

    O mentor da convocação contra as ciclovias sumiu e não compareceu a nenhuma das audiências do MPDFT. Vários moradores de quadras do Plano-Piloto apareceram. Vários pró-ciclovia e alguns contrários alegando duas coisas: que iria ferir o tombamento (falso) e que eram contra a passagem de pobres pelas suas quadras (lamentável!).

      Na última reunião no MPDFT pude apresentar um estudo rápido sobre crescimento de mortos em acidentes de Trânsito de 1996 a 2010. Os pedestres, ciclistas e motociclistas são classificados como categorias vulneráveis, pois são aqueles que mais tiveram aumento no seu número de mortos e devem ser os mais protegidos em caso de qualquer abalroamento ou simples toque por um veículo.

        O que para um carro é apenas um toque com o para-choque, para um ciclista, pedestre ou motociclista é o atropelamento.

      Em 1996 morreram 690 ciclistas em acidentes de trânsito, em 2010 morreram 1.909 ciclistas; em 1996 morreram 1.421 motociclistas e em 2012 morreram 13.452 motociclistas. Entre os pedestres ocorreu uma queda, de 24.643 mortos em 1996, para 11.946 mortos em 2010. Foram quase 30 mil mortos nessas categorias em 2010.

         A conclusão é que essas três categorias tem de ser protegidas do trânsito, pois ocorre um massacre diário de 75 pessoas.

      E a melhor proteção aos ciclistas é a criação de ciclovias separadas das ruas, associadas à construção de calçadas para pedestres.

          Ao final da última reunião, a participação do superintendente do Iphan em Brasília, Alfredo Gastal, foi importantíssima. Gastal declarou que a implantação de sistemas de transportes ambientalmente corretos não ferem o tombamento da cidade, se forem feitos corretamente. Além disso, Brasília tem optado por um modelo rodoviarista de transporte desde a década de 1960 e a construção de ciclovias é um passo importantíssimo para a recuperação da qualidade de vida de Brasília.

              Enfim, na primeira semana de junho de 2012, o GDF assinou um termo em conjunto com o MPDFT se comprometendo a executar a implantação das ciclovias com respeito ao tombamento da cidade, à proteção do meio ambiente e com uma enorme campanha educativa para esclarecer à população como usar as ciclovias com segurança. 

                As obras das ciclovias recomeçaram e agora vamos acompanhar a correta execução da primeira rede cicloviária do DF! É isso. Saudações a todos.
     
         


3 comentários:

  1. 1) É impressionante como as ciclovias vêm sendo implantadas em Brasília de forma equivocada (pra dizer o mínimo), unilateral e **sem bicicletários**.

    1.1) Sempre existem as tais audiências "públicas" para fingir que estão ouvindo a sociedade

    2) Essas ciclovias têm um simples propósito: passar na propaganda "construímos XXX km de ciclovias".

    3) Ciclovias mal feitas que vi no Sudoeste, Recanto das Emas, Santa Maria...

    3.1) Que eu saiba nem recuperaram a já existente em Taguatinga Norte (não consertam porque isso não gera propaganda de obra nova).

    4) Esse pessoal devia ir pra Holanda aprender a fazer ciclovia, bicicletários e **integração**.

    5) Não adianta ciclovia que liga **nada a lugar nenhum**.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. As audiências públicas têm sido meramente para inglês ver. São apenas para cumprir a Lei e não para ouvir a população. Minha satisfação foi de que com a construção dessas ciclovias, a população começará a usar mais a bicicleta e reforçará a cultura ciclística. Apesar dos governantes, acho que as ciclovias começarão a quebrar parte do paradigma dos automóveis. Um abraço!

      Excluir
  2. Caro Biotransp, o email que você publica e refere como uma pessoa anti-ciclovia é meu. Você publicou o email e ignora que ele dialogo com o seu texto ao invés de falar o contrário. Nele eu coloco que o GDF esta enfiando as ciclovias goela abaixo da população e não se mostra aberto ao debate.Você mesmo diz que os projetos eram ruins e deveriam ser debatidos com a população. O GDF nunca fez um debate sério com a população sobre as ciclovias. Muito menos uma audiência pública de verdade. Em abril do ano passado foi marcada uma audiência pública para debater as ciclovias do plano piloto e ela não aconteceu pois o GDF não apareceu (sendo que ele que marcou a audiência). A audiência foi transformada em reunião e foi garantido que outra audiência seria marcada. Até hoje estamos esperando. Enquanto isso as ciclovias continuaram a serem construídas. Agora temo centenas de km de ciclovias no DF e nenhum km de qualidade. Milhões de reais jogados fora. Concorda ou continua defendendo o modus operandi do GDF?
    Não compareci as reuniões do MP pois não tenho obrigação nenhuma de participar. Nas reuniões da UnB eu estava lá e argumentei bastante. Se você estava lá deveria ter prestado mais atenção no que falei ao invés de fazer denúncias fora de contexto.
    Estou aqui me identificando. Disposto ao debate. Gostaria de saber quem é você, procurei aqui no blog e não achei um nome.

    ResponderExcluir